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24 setembro 2013

O Caveleiro e a Guerreira - (Inicio)


Extremo Oriente, Japão. O ano do nosso Senhor de 1577. Era o governo de Daymio Oda Nobunaga. Seu objetivo era unificar todo o seu país, algo que ele ainda não havia conseguido. E isso não impedia que soldados sem honra tentassem impor à força os seus desejos aos mais fracos. Eles avançavam por um campo aberto, circundado, ao longe, por montanhas.
A aldeia era insignificante, cerca de duzentos habitantes. Os aldeões cessaram a plantação e olharam para os cavaleiros que vinham de forma ameaçadora, sobre as suas montarias. Todos temeram. A apreensão tomou aquele lugar ao fitaram a pequena cavalaria que se aproximava, trazendo em suas mãos a semente do caos. Eram, pelo menos, onze cavaleiros armados e preparados para impor as suas vontades sem que ninguém pudesse oferecer resistência alguma.
Foi então que um estranho homem partiu dentre aqueles camponeses, caminhando pelo espelho d’água da plantação de arroz e esperando mais à frente, colocando-se entre os aldeões e os temíveis soldados que despontavam ainda distantes. Sua aparência em muito diferenciava dos demais habitantes. Sua pele era clara, assim como os seus cabelos. Ele usava uma armadura japonesa, apesar de não parecer em nada com aqueles que ele pretendia defender.
Os cavaleiros continuavam a avançar em suas montarias.
– Pai... Quem... Quem é ele? – perguntou o mais jovem ao fitar o estranho homem.
Faltavam apenas poucos metros para a desembalada carreira dos agressores alcançar os indefesos homens.
“Quem eu sou?”, pensou o estranho homem liberando com o polegar esquerdo a guarda de sua espada para que pudesse sacá-la, posicionando os pés em seguida. “Eu sou Sir Ray Bryan Stephen, Cavaleiro da Rainha Elisabeth e filho da Casa de Yagyu Sekishusai Tiara-No-Munetoshi”. Seu rosto mantinha-se inalterado, tomando posição para o sacar a sua arma. “Eu me coloco ante a maldade desses soldados e os derrotos”. Sua mão direito segurou com firmeza o punho da espada. Abriu um sorriso. “É isso que eu faço. O que sempre fiz”.
Foi tudo muito rápido, os soldados sem honra saltaram sobre o espelho d’água, esmagando a plantação. Sir Ray sacou a sua espada à medida que desferia o primeiro e certeiro ataque contra o cavaleiro mais adiantado. Sua espada cortou o pescoço da montaria, arrancando, em seqüência, uma das mãos do inimigo. Impossível prosseguir. O animal caiu com força por terra, arrastando-se por alguns metros, acompanhado do urro de dor do cavaleiro. Os demais comparsas pararam, aterrorizados com a força e o efeito daquele golpe. Todos, sem exceção, voltaram-se para o estranho homem, perceberam a sua estranha fisionomia, lembraram-se de algumas lendas, outras rondaram as suas mentes, mas ninguém recuou. Todos concentraram as suas forças contra o guerreiro que se apresentava.
O primeiro avançou, era impossível que um homem a pé vencesse um cavaleiro. Sir Ray desviou-se do ataque, correndo a lâmina de sua espada na altura da barriga do animal, cortando profundamente, arrancando o pé de seu agressor. Outro grito estarrecedor foi proferido, caindo por sobre o espelho d’água em seguida, seu sangue começou a misturar-se com a água. Os aldeões olhavam abismados para a força daquele guerreiro samurai de pele clara e fisionomia de outros povos.
Os soldados se intimidaram, porém partiram de encontro ao estranho defensor. O ataque foi rápido, a defesa e o revide também. Ambos erraram os seus ataques, no entanto, um foi golpeado na altura da barriga e outro nas costas. Este último, mesmo ferido, ainda tentou fazer outra investida, teve o seu tronco perfurado, caiu sobre a água. Agora, dois cavalos andavam sem destino e outros dois relinchavam de dor.
– Recuem... – aconselhou Sir Ray.
Os soldados sem honra mostraram-se desencorajados.
– Nós... nós só queremos diversão. – argumentou um deles.
– Estupros, saques, desonras. – retrucou Sir Ray. – Isso não é diversão e não permitirei que o façam.
– Somos cavaleiros de teu senhor, o senhor dessas terras! – gritou outro. – O senhor de todo o Japão! Você tem a obrigação de nos obedecer e nos deixar passar!
– Avancem o quanto quiserem – concluiu Sir Ray, ainda em posição de combate. – e vosso Daymio receberá a notícia da falência moral de seus cavaleiros e suas conseqüentes mortes.
Todos temeram e se olharam. Eram onze cavaleiros, sendo que quatro haviam sido derrotados sem muito esforço.
– Levem os seus feridos daqui! – ordenou.
Os soldados entenderam a ordem. Lentamente, recolheram os seus feridos e partiram por onde haviam vindo. Os aldeões não conseguiam entender tamanha força e o motivo pelo qual ele os havia protegido. Sir Ray continuou olhando para os seus adversários enquanto eles se afastavam, até sumirem de vista.
Um aldeão se aproximou.
– Mestre, – questionou. – quem é o senhor?
Sir Ray sorriu enquanto limpava a lâmina da espada, guardando-a em seguida.
– Mestre? – insistiu.
Observou o campo de batalha, outrora uma plantação de arroz, tomada pelo sangue de animas e de pessoas.
– Sou apenas um andarilho. – respondeu. – Enterrem estes corpos antes que eles causem algum tipo de doença. Permanecerei com vocês até ter a certeza que este lugar está seguro.

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