Joel
estava agora em um corredor da universidade em que lecionava.
Lentamente ele subiu as rampas de acesso. Ouvia barulhos estranhos,
como o de ventosas desgrudando de algum lugar. Súbito, ele se depara
com um inseto gigante. Ele era azul. Como um carrapato bêbado de
sangue.
Joel
desce as rampas correndo. Chegando de volta ao primeiro andar, vê
uma cena horripilante: o mesmo homem de máscara conduzindo sua
bizarra companhia de insetos gigantes. Joel dá um grito de agonia.
Como em outras tantas vezes em que era surpreendido no meio da noite
quando criança. O homem muda de direção e passa a perseguir Joel.
Ele
estica sinistramente sua bengala derrubando Joel, que cai ao chão,
para levantar-se e cair novamente. Repetidas vezes isto aconteceu.
Joel sobe as rampas então. Ele se depara com o inseto que defrontara
anteriormente, pois havia se esquecido dele. O inseto o agarra. Joel,
paralisado de pavor, apenas se entrega. Tão facilmente se entrega.
Mas o divertimento de uma caçada é a caçada em si e não a captura
da presa. O inseto prende Joel entre suas patas, as mandíbulas se
abrem, uma gosma verde é ejetada de suas entranhas e acerta em cheio
Joel. Assim como o cascudo que dera no pequeno menino na praia. A
gosma queima seu rosto. Mas ele pode suportar. Seus bigodes e barba
estão verdes. Joel dá um grito. E chama por sua mãe.
O
papel simbólico da mãe permeia a existência humana desde o mais
remoto tempo. Dizem até mesmo antes de o homem tornar-se o ‘homem
que sabe’, como se o homem soubesse de alguma coisa. Afinal, homens
que sabem não clamam pela mãe. Eles a honram e não exploram seu
ventre, sua fertilidade. O matriarcado permeou os primeiros cultos da
humanidade. E mesmo em mentes racionais ainda há um pouco do culto à
mãe, da mãe que protege, alimenta, afugenta o menino brigão que
implica com seu franzino filho.
E
foi essa memória perdida na mente de Joel que dissipou seu verdugo.
Porque os sonhos são assim. Nos domínios de Oneiros não é o
rei-pensamento seu lorde, juiz e captor, mas sim o Novelo. Ele é o
nada e o tudo, mesmo quando o tudo vira nada, o Novelo sempre está.
Nos domínios do Rei-Sonho, somente o sonho É.
Todavia,
isso não era o bastante para que Joel estivesse livre de seus
algozes. Mesmo o inteligente Joel sabia que um truque não pode ser
usado duas vezes. Ainda mais o velho truque do nada, o ‘não
acredito’, o qual Joel sempre usara durante toda a sua vida.
Por
isso ele continuou a correr, subindo as infindáveis rampas. Sabia
que uma hora teria de chegar a algum lugar. Sabia que tudo estava tão
estranho demais e que as coisas ditas reais deveriam aparecer a
qualquer momento. E ele se agarraria a elas de qualquer forma.
Poderia haver alguém nos andares superiores, alguma coisa que o
pudesse livrar daquela hediondez.
Joel
desistiu de correr. Havia se cansado. Não era mais um jovem e sim um
senhor de idade avançada. Arfando, ele tem a mirabolante idéia de
tomar o elevador. Sua mente soberba o auxiliara a descer enganando
àquele tétrico ignoto ser.
O
elevador demora e o terror na mente de Joel faz gelar seu coração.
Suas mãos trêmulas mal conseguem acertar o botão tantas vezes já
acionado. Ele ouve barulhos. O mesmo barulho de ventosas se
desgrudando do chão. Ele leva uma das mãos à boca. Os passos ficam
fortes. O homem da máscara de oxigênio aparece, rodando sua bengala
branca a uma velocidade altíssima; mesmo os melhores produtores de
efeitos especiais não poderiam fazer coisa semelhante; uma orquestra
de insetos gigantescos o segue. Joel esmurra a porta do elevador.
Súbito, ele aparece. Joel abre a porta. ‘E agora? Vá tomar no c*,
seu filho da p*** de máscara.’ Porém quando Joel olha, vê que
não há elevador. Não há nada senão um grande fosso. E ele quase
se precipitou. Até mesmo o homem pensou o mesmo.
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