Esta
estória os avôs ouvem quando ainda são meninos. E tolos o bastante
para não se perguntarem ‘como é possível?’. Ela é modificada
para se adequar ao tempo em que é contada. Então a ouvem
atentamente, imaginam. E sonham. Isso cria o Novelo. Antes que suas
soberbas inteligências se perguntem, responderei às indagações
que se formam em suas brilhantes mentes.
O
Novelo simplesmente é. Sempre foi. E sempre será. Mesmo que nada
mais haja, o Novelo estará lá. Para quando o Tudo surgir, ele
coabite em sua essência, seja simbiose e uno, perdão e pecado,
glória e vergonha, beijo e tapa, escapismo e meta.
Mas
na verdade vocês mesmos sabem que o Novelo não é nada disso. Sabem
que ele está aí, em algum lugar de suas mentes, mas não podem
achá-lo. É mais fácil ignorá-lo por toda a vida. Ele é mais que
sonhos e pesadelos.
Ele
é... o Novelo.
Joel era um
homem arrogante. Professor de uma universidade conceituada.
Extremamente racional e objetivo, como se definia, em suas questões
cotidianas. Seu divertimento era troçar das pessoas, de suas idéias,
argumentos, atitudes. Nunca se importou em ofender, mal-dizer, tudo
isso era para ele um jogo bem, e muito bem, jogado. Em suma, o mundo
o incomodava. Porque Joel era grande demais para ele. Ele se sentia
um gigante, o verdadeiro Godzilla, a desmembrar o íntimo das pessoas
que entram em seu círculo de relacionamentos.
Certa
vez, uma pequenina criança, um menino, estava sentado no capô de
seu Corolla preto. Havia algo em suas mãos. A luz do sol de
Copacabana ofuscava, mesmo de óculos escuros, os olhos de Joel.
Chegando
próximo à criança, Joel percebeu que se tratava de um livro. A
capa vermelha com contornos dourados fez-no lembrar de sua infância.
Mas era algo quase apagado em sua mente. Porque para Joel a fantasia
da infância era algo por demais abstrato para sua mente racional
compreender. Joel odiava ursos cor-de-rosa, sapos falantes, coelhos
que usam meias. Isso nos leva a crê que Joel tinha a alma de um
porco presa num corpo humano.
‘Saia
daí de cima, moleque’, disse Joel. O pequeno menino apenas olhou
para ele. ‘Que é isso que está lendo?’. Arrancou de suas mãos
o livro vermelho deixando soltar uma página. E ela fora levada pela
brisa que leva ao mar para suas águas. A doce e frágil Alice era
valsada pelas correntes de ar e afogada no mar, juntamente com o
coelho branco.
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