Na Bretanha, as crianças ouvem contar a lenda da catedral submersa: Era uma vez uma catedral bonita, plantada havia muitos anos na beira do mar. Era a jóia da aldeia, o povo gostava dela. Em dia de festa, mais bonita ficava, cheia de gente, e os sinos dobrando.
"Mas um dia — foi o vento? foi a maré muito forte? foram os pecados da gente que irritaram a Deus? — o certo é que o mar subiu e devorou a catedral.
"Mas um dia — foi o vento? foi a maré muito forte? foram os pecados da gente que irritaram a Deus? — o certo é que o mar subiu e devorou a catedral.
Depois, durante muitos séculos não se ouviu falar mais da "cathédrale engloutie".
Mas quando era calma a noite, quando não silvava o vento gemendo no arvoredo, nem uivavam os cães na redondeza, se o barqueiro que singrasse aquelas ondas apurava o ouvido, escutava lá longe, vindo do fundo das águas, o claro som argênteo de sinos tocando. Eram os sinos da catedral, que dobravam para as suas festas".
Ora, é um pouco assim com cada alma humana. Quantas vezes esbarramos na vida com um ser abjeto, cheio de defeitos. Pensamos com asco que nada de sadio existe nele. Bastaria, entretanto, aguçar o ouvido para escutar — muito distantes, talvez, mas sonoros e cristalinos — cantarem os sinos dessa "cathédrale engloutie".
O que é preciso é não desesperar de ninguém. É saber descobrir em cada coração o reflexo de Deus que aí existe, ainda que esteja envolto na lama. É saber dar a esse mísero desgraçado a possibilidade de emergir para a vida. Fazer que cantem os sinos da catedral.
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