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23 julho 2013

O Arcebispo Turpin e a partida de Carlos Magno para o Céu

Eu Turpin, arcebispo de Reims, estando em Viena, após ter celebrado a Missa em minha capela, como estava só para dizer minhas horas, tendo começado o Deus, in adjutorium meum, ouvi passar sob minhas janelas um grande bando que atraiu minha atenção; ele marchava em meio a muito barulho e clamores.

Abri a vidraça para ver o que causava esse tumulto; e, adiantando a cabeça, reconheci que era uma legião de demônios, mas tão numerosos que não era possível contá-la.

Ainda que eles fossem a grandes passos, percebi entre eles um demônio menos alto que os outros, cujo aspecto, contudo, era horrível.

Ele era precedido por um primeiro grupo, e marchava na liderança do segundo, que se entrelaçava após ele, a alguns passos de distância.

Eu o conjurei, no nome do Criador e pela fé cristã, de me declarar in loco aonde ele ia com esses grupos.

– Nós vamos, me respondeu ele, nos aproveitar da alma de Carlos Magno, que, nesse momento, parte desse mundo.

– Ides, eu lhe disse; e, pela mesma ordem que já vos destes, eu vos adjuro de passar novamente por aqui para me relatar o que tereis feito.


Ele se afastou. Desde que ele desapareceu com os seus, me coloquei a recitar o primeiro salmo da terça.

Mal havia terminado, quando ouvi todos esses demônios que retornavam.


Seu tumulto me obrigou a ir até a mesma janela, de onde eu os vi tristes, inquietos e abatidos.

Perguntei àquele que tinha falado comigo, para me declarar o que eles tinham feito e qual tinha sido o resultado de sua marcha.

– Muito mal, respondeu ele. Mal tínhamos chegado ao encontro, quando nos vimos intimados, com o arcanjo Miguel vindo até nós com suas falanges; estávamos, contudo, próximos de nos apoderar da alma de Carlos.

Mas dois homens sem cabeça, São Tiago da Galícia e São Dionísio de França, patronos do império dos Francos, estavam presentes na hora da morte de Carlos.

Eles colocaram, em um dos pratos de uma balança, todas as boas obras do príncipe que acabava de falecer.

Eles reuniram ali as igrejas, as abadias e os outros monumentos piedosos que ele tinha edificado, com os ornamentos e os diversos acessórios do culto do qual ele os tinha dotado.


Não pudemos reunir muitos pecados para levantar o outro prato; e tão logo, as falanges de Miguel, felizes com nossa confusão e alegres por ter elevado a alma do monarca, nos flagelaram tão vivamente que eles agravaram a aflição de nosso insucesso.

Eu, Turpin, fui assegurado que a alma do príncipe, meu mestre, tinha sido elevada ao céu pelas mãos dos anjos bem-aventurados, pelo peso de suas boas obras, e pela proteção dos santos que reverenciou e serviu durante sua vida.

Logo, fiz vir meus clérigos, ordenei que soassem todos os sinos da cidade; e fiz dizer missas; distribui esmolas aos pobres; enfim, orei pela alma de Carlos, na esperança fundada de aliviar o peso de sua purificação.

Ao mesmo tempo, testemunhei a todos aqueles o que vira e que estava certo da morte do Imperador.

Dez dias depois, recebi uma carta que me trazia todos os detalhes do ocorrido, e me instruía que o santo monarca tinha sido enterrado na igreja que ele mesmo tinha fundado, em Aix-la-Chapelle.

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