Por esta época, entretanto, já andava pelo mundo um deus, ainda muito
jovem, mas que já era sábio e dinâmico o bastante para ter criado muitas
coisas. Seu nome era Odin e poucos desconheciam o seu poder e
inteligência. Por muito tempo, intrigara-o o caso do infeliz deus
Kvasir, morto pelos anões. Todos, em Asgard, sabiam da tragédia e a
grande especulação estava voltada para o fato de se saber onde andaria o
tal caldeirão do hidromel, pois todos queriam provar desta maravilhosa
bebida.
- Odin, somente você poderá nos trazer este deleite supremo! -
diziam-lhe todos, confiando no seu gênio e na sua capacidade de
conseguir o que queria.
Depois de tanto ser aborrecido com esta história, Odin decidiu-se,
afinal, a ir procurar pela tal bebida. O deus seguiu a pista dos anões
e, após havê-los encontrado, conseguira arrancar deles a história dos
seus crimes.
- Onde está o hidromel, vermezinhos? - disse ele, ameaçando-os com uma terrível punição.
Os anões confessaram que Suttung, o filho dos mortos, havia-o levado, o
que bastou para Odin dar-lhes as costas e os deixar chacoalhando os
joelhos em cima de duas pequenas poças amarelas. O deus dirigiu-se,
imediatamente, para as terras de Suttung. Já ia a meio do caminho,
quando passou por um campo onde havia nove homens ceifando. Eram os
lavradores de Baugi, o irmão de Suttung. Odin percebeu, logo, que as
foices que eles usavam estavam completamente cegas.
- Oh, sim! claro que queremos! - responderam, aliviados.
Odin não levou muito tempo para torná-las tão afiadas como eram no dia
em que saíram da forja, graças à sua afiadíssima pedra de amolar.
- Esta sua pedra é mágica! Dê-a para nós! - exclamou um deles.
- Claro, aqui está - disse Odin, lançando-a para eles.
Imediatamente, todos se precipitaram para apanhá-la. Na confusão,
entretanto, foram com tanta gana à pedra, que se engalfinharam numa
briga tremenda, terminando todos estendidos no solo com as gargantas
cortadas.
- Oh, deuses, que lástima! - disse Baugi, o senhor dos nove servos mortos.
- Não se aflija - disse Odin, adiantando-se. - Terminarei o serviço deles em troca, apenas, de uma deliciosa taça de hidromel.
- Quem é você, afinal, homem da pedra que mata? - disse Baugi, intrigado.
- Meu nome é Bolverk - respondeu Odin, começando a ceifar o campo.
(Bolverk quer dizer "perverso", mas Baugi não foi atilado o bastante para se dar conta do perigo.)
- Infelizmente, o caldeirão onde ferve o hidromel está sob o controle do
meu irmão - disse Baugi, cocando a cabeça -, mas vou falar com ele e
ver se consigo arranjar-lhe uma taça.
- Faça isto, meu amigo - disse Odin, de cabeça baixa e afetando indiferença.
Odin ceifou todo o campo - o que lhe custou um bocado de tempo - até
que, finalmente, concluiu sua tarefa. Infelizmente, Baugi não conseguira
nada com o irmão, que não queria ceder nem um único gole da preciosa
bebida.
Odin e Baugi decidiram, então, recorrer à astúcia para que o primeiro pudesse se apoderar do seu justo prêmio.
- Mas me prometa que se servirá somente de uma pequena taça! - disse
Baugi ao colega, que prometeu, prontamente, com um sorriso oculto nos
lábios.
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