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17 setembro 2013

Ordem do Dragão - (Inicio)

Cidade de Eurico, Portugal, ano do nosso Senhor de 1569, poucos meses após à Missão de Guerra.
Avaantã não conseguia acreditar que havia aceitado o convite de Dom Eurico. “O nobre governador da cidade de Eurico”, dizia o mensageiro em terras selvagens brasileiras, temendo por sua vida frente aos guerreiros selvagens, “o convida para que atravesse o oceano como convidado na grande nave Capitania para que venha conhecer o mundo do seu ‘irmão de armas’”.
O líder selvagem, na verdade, sentiu-se deveras tentado em conhecer outras nações, mas tudo o que havia visto lhe causava desprezo: as grandes cidades, edificações, pontes, torres, tudo o deixava deveras disposto a retornar à sua terra. Os povos europeus necessitavam derrubar as suas florestas para se sentirem melhores e mais confortáveis. Era uma população desordenada, sem aparente limitação de poder, numerosa e descontrolada, com muitos fracos, gordos, doentes e despreparados para uma batalha.
Agora o selvagem encontrava-se, orientado pelo anfitrião da cidade, adentrando o castelo da família Eurico, lugar que poucos possuíam acesso. Percebeu uma certa movimentação dentro da casa, eram os servos de Dom Eurico. O anfitrião partiu para outra sala, deixando-o sozinho no grande salão.
Observou em volta, não gostava de esperar.
Foi quando fitou uma criança descendo os degraus do salão superior. Avaantã manteve-se sério, observando o pequenino. Percebeu que a criança possuía quase da mesma idade do seu filho. Ao contrário da população local, aquela criança ostentava um bom aspecto físico de guerreiro.
O garoto veio descendo devagar os lances de escada, mas parou em meio aos degraus assim que avistou o estranho visitante selvagem. Avaantã e a criança permaneceram se encarando por alguns instantes; o selvagem, de forma altiva e semblante fechado; a criança, de forma segura e sem medo.
Avaantã gostou da atitude do pequenino, ergueu a sua mão lentamente, sem dizer uma única palavra, fazendo um gesto, curto e repetido, com os dedos para que se aproximasse, não insistindo muito no convite. O pequenino manteve-se estático por alguns instantes, mas então partiu ao seu encontro.
– Qual o seu nome, criança? – perguntou Avaantã na língua local, o observando em todos os detalhes. Aquela criança ornamentava roupas que só poderiam pertencer à nobreza daquele país, e isso Avaantã já sabia identificar.
A criança nada respondeu. Avaantã agachou-se à medida que o pequenino se achegava, tocando a mão do selvagem.
– Seu nome é Aléxis Eurico. – disse uma voz feminina. – Filho de Dom Paulo Barros Eurico e Dona Maria d’Ana Eurico.
A mulher aproximou-se colocando a criança em seu colo, haviam agora homens da guarda nas extremidades do salão.
– Eu sou a mãe da criança. – continuou. – E você deve ser o formidável guerreiro que meu esposo tanto comenta.
– Avaantã é o meu nome. – disse.
– Ele também comentou da sua capacidade de falar a nossa língua de forma tão perfeita. – continuou ela. – Você deve ser, como costumam dizer nestas terras, um gênio, extremamente preparado, tanto físico como intelectualmente. É certo que faz “jus” à ostentação de líder de sua nação.
– Onde está o seu esposo?
– Relaxe, – continuou ela. – você logo o encontrará.
– Onde ele está, senhora? – perguntou um tanto descontente e irritado. – Eu merecia recepção um tanto melhor.
Dona Maria D’Ana Eurico esboçou um sorriso.
– Meu nobre esposo logo chegará de uma de suas jornadas.
– Ele viaja demais.
– Sempre necessárias, meu caro. – disse estendendo a mão para guiá-lo. – Mas fui orientada a levá-lo, de forma discreta, como todos os outros, a um lugar no qual nenhum homem pudesse importuná-los ou ter ciência de suas reuniões.
– “Outros”?
– Sim, outros...

Algumas horas depois.

A cidade de Eurico mostrava-se ao longe, a sua imponência era percebida de maneira sólida. Porém, distante do castelo, longe dos grandiosos muros da cidade, passando a floresta, os campos, achegando-se a um terreno acidentado, encontrava-se uma pequena igreja, aos moldes do novo mundo. O nobre Conde de Eurico, Dom Paulo Barros Eurico, governador da cidade de Eurico, pai do pequeno Aléxis, e esposo de Dona Maria D’Ana, observava o lugar pelo lado de fora.
Abriu a pesada porta da pequena igreja lentamente.
– Senhores... – disse o governador.
Dentro do interior da igreja, havia uma grande mesa redonda de madeira. Sentados à sua volta, a convite de Dom Eurico, encontravam-se o soldado da Elite Francesa, senhor Depardieu, os cavaleiros da rainha inglesa, Sir Gregory Wright e Sir Ray Stephen, a guerreira chinesa, Lien, o nobre espanhol, líder dos tércios espanhóis, Dom Esteves, o Califa de Damasco, Abd El-Ramahn, e o senhor das terras selvagens, Avaantã,
– Por que tomou essa atitude, Eurico?
– Boa tarde, para você também, Avaantã.
– Por quê?
– “Por que” o quê?
– Por que nos chamou dessa forma, caro nobre. – era o califa. – Viajamos por demais até estas terras, esperamos que tenha de relevante importância esta reunião.
– Ah, sim. – continuou o governador. – Solicitei aos meus homens para que lhes enviassem mensagens solicitando as vossas presenças. Apenas a poucos dias disseram-me que haviam conseguido encontrar a todos e marcado a reunião. Retornei imediatamente.
– Apesar de minhas tarefas, – era o espanhol. – aprendi que os seus assuntos normalmente envolvem os meus assuntos, antes mesmo que eu venha a ter ciência. Então, lhe dou esse voto!
– Estou quase certo que o fez frente ao resultado alcançado nas terras selvagens. – era o francês. – Logo, pedi liberação para estar aqui presente.
– Obrigado, cavalheiros. – disse em resposta.
– Estamos aqui ainda por causa da “Ordem do Dragão”. – era Sir Gregory. – Espero que tenha algo a ver...
– E tem.
– Tivemos um breve confronto com alguns seguidores dessa Ordem ao retornarmos para a Inglaterra, mas sequer obtivemos mais pistas sobre eles. – era Sir Ray. – As informações que nos passou anteriormente não nos ajudou muito.
– Eles têm agido em constante alteração. – respondeu Eurico. – Descobrimos diversos novos Pontos de Operação e outros tantos abandonados. Eles aprenderam a se locomover com rapidez e sem deixar pistas.
– Fomos atacados por um desses grupo em plena Península Arábica, – era o Califa. – mas conseguimos derrubá-los.
– Bom, menos um “tentáculo”. – respondeu Eurico.
– Isso é uma brincadeira? Eles podem enviar novamente a sua arma contra vocês ou a minha nação!
– Meus homens sequer conseguem localizar as novas “células” de ataque antes que elas sejam abandonadas. – continuou Eurico. – E vejo que eles estão cada vez mais eficientes.
– Você e seus homens – era Lien, sotaque chinês. – se mostraram a maior força contra essa Ordem, se não consegue mais ser páreo a ela, então temo estarmos com um grande problema.
– E acredita que essa reunião possa ajudar em alguma coisa. – concluiu Sir Gregory. – Bom, posso garantir que não estamos melhores do que o senhor e seus homens.
– Acredito que essa Ordem esteja recebendo apoio.
– Do que você está falando? – era Depardieu. – A Rainha-Mãe redimiu-se de seu erro, pediu desculpas publicamente, e todos aqui sabem como isso é difícil.
– Sim, – continuou Eurico. – mas estou falando de algo tão determinado quanto essa ordem que possa ter se unido a eles e ensinado a se esconder e se infiltrar. Tão eficazes que sequer eu saberia da existência destes senão fosse o fato de terem se unido à Ordem.
– Do que você está falando? – era Avaantã.
– Acredito que aja uma ameaça muito maior do que podia prever. E essa Ordem, comparada que com o apoio que vem recebendo, aprendendo novas táticas de guerrilha e tudo mais, seja “peixe pequeno”.
– Quer dizer que pode haver algo pior que a Ordem que nos ameaça?
– Sim...
– E o que pretende fazer? – era Sir Ray.
– Avisar aos representantes dos povos já afetados pela Ordem do Dragão e tentar combatê-los, tanto o inimigo visível, quanto o invisível.
– Você disse em “infiltração”. – era Avaantã. – O que isso significa em termos práticos?
Foi quando se ouviu, ao longe, vindo de Eurico, o som de uma grande explosão.
Eurico olhou para a explosão e depois para o selvagem.
– Isso...

No centro da cidade. Minutos antes.

As ruas de Eurico sempre lotadas comportavam o comércio e o movimento. Seus muros altos, percebiam-se do interior das ruas de longe. De súbito, só foi possível perceber algo com uma coluna de fogo subindo ao céu e partindo com força uma pequena casa. Tudo ao seu redor foi destruído. Parecia que uma saraivada de disparos de canhões haviam atingido o local, o lugar foi coberto por chamas.
Muitos homens, mulheres e crianças foram atingidos, desaparecendo em meio à explosão. Os feridos, ainda vivos devido à distância da explosão, estavam completamente desnorteados.
Em meio ao foco da explosão, agora com as chamas dispersas e a poeira baixando, podia-se perceber algo que se aproximava da forma humana, parecia uma pessoa. Aquele ser caminhava de maneira estranha e parecia gritar, seu corpo parecia envolto de uma estranha armadura, o protegendo do fogo.
– Dom Eurico! – gritou de forma enlouquecido. – Aonde você está?!?

Na casa da Guarda. Agora.

A casa da guarda viu a explosão a uma boa distância, sem entender o que estava acontecendo. Seria um ataque externo? Os sentinelas haveriam alertado sobre o ataque.
A correria entre os soldados da guardas era grande.
– O que está acontecendo? – perguntou o comandante.
– O centro da cidade, senhor. – respondeu um subalterno. – Foi atacado!
– Isso estou vendo! – retrucou. – Quero saber se havia algum homem meu próximo ao local que tenha sobrevivido!
– Eu acabei de retornar de lá, senhor! – disse outro, extremamente ferido. – Há centenas de pessoas mortas e feridas no local...
– O que nos atingiu? – continuou o comandante dirigindo-se ao soldado ferido. – Canhões?
– Não, senhor. – respondeu. – Isso aconteceu sem aviso, apenas explodiu.
Um sentinela aproximou-se para reportar-se.
– Não foi ataque externo, senhor. – disse.
– Então, o que isso significa? – perguntou voltando-se ao sentinela. – Se não é um exército? Então o que é?
– Disseram tratar-se de apenas um homem. – retrucou o soldado ferido antes que o sentinela respondesse.
– Chamem o Governador!
– Não o encontramos, senhor.
– Chamem alguém que possa responder por ele.
– Neste caso, o senhor.
– Você me entendeu! – disse sacando a sua espada. – Quero homens naquela explosão agora!
– Eles já estão a caminho, senhor.
– Então enviem reforços!
Foi quando se ouviu uma forte explosão ao longe, novamente vinda do centro. O comandante sentiu o seu corpo estremecer
– Meu Deus...
– Senhor?
– Aqueles homens já estão morto...
– Envie os Arqueiros e os Soldados de Elite agora!
– Senhor, sequer sabemos o que está acontecendo...
– Eu disse “agora”!

Momentos depois. No centro.

Vários soldados da guarda já haviam sido mortos. Os Soldados de Elite e os lendários Arqueiros dos muros da cidade se posicionavam frente ao que parecia um cavaleiro de armadura sem o seu cavalo.
– Estão todos prontos? – perguntou o homem no comando, mais à frente, avistando o estranho cavaleiro de armadura seguindo em sua direção.
– Mesmo com todo aquele peso, ele se move a uma velocidade incrível. – comentou um dos soldados.
– Vamos barrá-lo aqui. – retrucou outro.
O homem de armadura continuava a cortar as ruas de Eurico e correr na direção dos soldados.
O homem no comando adiantou-se, o brilho da armadura do inimigo reluzia. A criatura continuava. Todos se prepararam. Foi quando, com uma distância diminuta, o estranho parou, observando os guerreiros de Eurico.
– Ele parou? – disse um dos guerreiros sem entender. – Acho que ele parou!
Os Arqueiros armaram os seus arcos.
O estranho ser continuou olhando de forma séria.
– Em nome do governador da cidade de Eurico! – começou o homem no comando. – Ordeno que volte por onde veio!
– Eurico... – disse sem que pudessem entender.
Só foi possível escutar uma forte explosão, os soldados de Eurico foram atropelados pelas chamas.
Da Casa da Guarda, o Comandante viu apenas uma coluna de fogo erguendo-se do centro da cidade.
– Onde está o governador? – perguntou sem se conter.

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